A prisão de Collor e o retrato de um Brasil em crise política contínua | RDNEWS

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Santa Terezinha,04/05/2025

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Rodinei Crescêncio



A recente prisão do ex-presidente Fernando Collor de Mello, determinada pelo Supremo Tribunal Federal, é mais um marco sombrio na história política do Brasil. Condenado a oito anos e dez meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Collor foi acusado de receber vantagens indevidas no âmbito da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras. O caso se arrasta desde a Operação Lava Jato e reforça a profunda contaminação da política nacional por práticas ilícitas, um câncer institucional que parece longe de ser estancado.




A prisão de um ex-presidente deveria causar comoção nacional, um abalo na confiança pública. No entanto, em um país onde a corrupção se tornou um traço estrutural do poder, a indignação deu lugar ao cansaço




Collor, que já havia renunciado à Presidência em 1992 para escapar de um impeachment, se torna agora o segundo ex-presidente da República a cumprir pena por corrupção, depois de Lula ter sido preso em 2018, ainda que posteriormente tenha tido suas condenações anuladas por irregularidades processuais.


Outros presidentes também foram implicados em investigações: Michel Temer foi preso preventivamente; Jair Bolsonaro é alvo de diversos inquéritos; Dilma Rousseff teve seu mandato interrompido por um impeachment controverso, em meio a acusações de manobras fiscais. A lista é extensa. E, talvez o mais inquietante: o povo parece já nem se espantar.


Esse é, talvez, o ponto mais revelador do colapso político-institucional que vivemos. A prisão de um ex-presidente deveria causar comoção nacional, um abalo na confiança pública. No entanto, em um país onde a corrupção se tornou um traço estrutural do poder, a indignação deu lugar ao cansaço.


A banalização do escândalo é, por si só, um indicativo da fragilidade democrática do Brasil. O filósofo italiano Norberto Bobbio alertava que a democracia não se sustenta apenas sobre eleições livres, mas também sobre a observância constante de valores éticos e da legalidade por parte de seus governantes. Quando essas bases se corrompem, o que resta é a forma sem conteúdo.


A democracia brasileira, embora formalmente mantida, tem sido corroída por práticas políticas antirrepublicanas, pela impunidade seletiva e por instituições que nem sempre se mostram à altura da Constituição que juraram defender. Em um cenário assim, a confiança da população nas lideranças políticas se dissolve, e o país mergulha numa crônica instabilidade. Esse cenário não passa despercebido aos olhos do mundo.


A percepção internacional do Brasil como um país instável, com lideranças frequentemente envolvidas em escândalos, afasta investimentos, enfraquece acordos comerciais e mina qualquer tentativa de crescimento sustentável. Afinal, quem investiria a longo prazo em uma nação cujo comando político é sinônimo de incerteza?


Contudo, é preciso ter cautela. A história recente nos ensinou que o discurso anticorrupção, quando instrumentalizado de forma moralista, descolada de um projeto democrático e progressista, pode se tornar arma perigosa nas mãos de movimentos autoritários. A maior ruptura política do país nas últimas décadas não se deu apenas por escândalos, mas pela manipulação desses escândalos como justificativa para ataques às instituições e ao próprio pacto democrático. A crítica à corrupção, portanto, não pode ser usada para desacreditar a política em si, ela deve servir para reivindicar uma política melhor, mais transparente e verdadeiramente representativa.


A prisão de Collor, portanto, não é um ponto fora da curva, mas parte de um ciclo vicioso que precisa ser quebrado. Para isso, não basta apenas punir os corruptos, é preciso reconstruir a confiança nas instituições, fortalecer mecanismos de controle e educar politicamente a população. E tudo isso deve ser feito dentro dos marcos da democracia, com respeito às garantias legais e ao Estado de Direito.


Sem isso, estaremos condenados a repetir os mesmos erros, esperando o próximo escândalo como quem assiste a uma série de episódios trágicos, mas previsíveis. O Brasil precisa, com urgência, superar sua cultura de tolerância à corrupção para que possa, enfim, construir uma democracia sólida e um futuro econômico viável, sem renunciar à liberdade, da justiça e da pluralidade que dão sentido à própria vida democrática.


Escrito com Sara Nadur Ribeiro


Mauricio Munhoz Ferraz é assessor do presidente do Tribunal de Contas de Mato Grosso e professor de economia



FONTE: RDNEWS



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